A idade confere à professora Lydia Weguelin de Abreu  a mais expressiva representatividade na rede das Alianças Francesas no Brasil, que congrega 40 instituições. Afinal 100 anos de uma vida que se mistura e se completa com a própria história da Aliança Francesa faz da professora Lydia não apenas a mais antiga das mestras da língua de Voltaire e Molière. Ao comemorar um século de existência no próximo 28 de maio​, ela se traduz como um símbolo amplo do amor à profissão das profissões – o magistério. O aniversário chegou ao jornal O Globo e ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo.

Nascida em Juiz de Fora, Minas Gerais​,  ​Lydia entrou na Aliança Francesa de Niterói como aluna​, em 1954. No  ano seguinte, já começou a lecionar na própria instituição, que funcionava em outra sede, também em Icaraí. A paixão pelo ensino, ela ​ conta que herdou da mãe, Marthe Rose Chaput, cantora de ópera em Paris​ que se ​enamorou duplamente quando veio ​para o Rio:​ foi paixão​ pelo Brasil e pelo advogado Raul Weguelin de Abreu, pai de Lydia.

​- ​”Depois que minha mãe se casou, ela passou a dar aulas de francês​​. Assim, a língua francesa é referência para mim desde ​ muito​ criança”, conta a professora​ Lydia. Referência e charme amorosos que cresceram quando ela foi morar​ com a família,​ por algum tempo, na França”.

Com voz suave e pausada, ​a marca dos bons mestres, Lydia lembra que participou da formação de centenas de alunos no curso regular da Aliança Francesa de Niterói​:

– “Há alguns professores daqui que estudaram comigo​​”​ – acentua com modéstia, mas uma ponta de legítimo orgulho.

Lydia só ficou sem lecionar na Aliança Francesa de Niterói entre 1984 e 1990, quando precisou cuidar da mãe,  que estava muito idosa. Mas ​a professora não ficou​ longe por​ muito tempo​. Em 1990, ajudou a criar o clube da leitura da instituição, no qual atua como professora até hoje.

​-​”Essa atividade é muito prazerosa porque mostra a grande beleza da língua francesa. Gosto de explorar contos de autores do século XIX e de viajar pelas páginas dos clássicos da nossa literatura​. Durante as aulas fazemos as leituras em francês juntos com os alunos e também debatemos as obras​ que consolidaram a literatura francesa como uma das mais representativas da nossa civilização​”, conta Lydia, que não demonstra apreensão com a velocidade tecnológica atual nas salas de aula. ​

“Eu me adaptei a novas tecnologias, com​o​ a exibição de imagens, por exemplo. O importante é manter a essência do ensino, que é surpreender​ e imutável. E fazer os alunos se apaixonarem pela língua francesa​​”, completa.

Lydia​​ revela​  que o segredo da longevidade, no seu caso, pode ter​ uma essencial​ ajuda da genética​, pois sua mãe viveu até os 103 anos. “​Junto a isso, precisamos cultivar o ideal de que enquanto ​estivermos aqui​,​ ​é importante ​viver bem​ sentindo a vida como uma dádiva​”​, sentencia ela, que ​exemplifica ao contar que ​fez tai chi chuan até os 95 anos.

Hoje já não pratica atividade física​. Mas gosta de manter certos hábitos, como acordar às 7h e ler jornal. ​- ​”É quando me sinto integrada ao mundo”. No dia a dia, Lydia diz que não segue mais rotina rígida nem na alimentação. “Como pouco, mas de tudo”, diz a professora, que demonstra ser​ muito​ feliz na companhia das duas filhas, Regina, de 73 anos, e Rosina, de 65, com ​as quais mora em Icaraí, Niterói.